GuardaSol Lili: setembro 2019

10 a 31 Agosto 2019

Férias. Não vou á procura de descanso nem do conforto, mas sim de vivências diferentes.
E sem dúvida que atingi o objectivo.

Atenção! Estas foram as minhas vivências, sendo viajante singular, Mulher e uma autocaravana, num país Árabe.

Tinha planeado fazer um percurso de +/- 3500 km, que abrangia grande parte de Marrocos. Mas como é normal e por situações que foram acontecendo, houve uma mudança.
Optei por fazer 2 viagem em autocarro. Marrakech até Ouarzazate e Fez até Merzouga (deserto do Saara). E por isso, só contabilizei os quilómetros conduzidos em autocaravana, que foram 2900 km em 3 semanas.

Desde 2014, Marrocos está em "alerta máximo", nível para eventuais atentados terroristas.
Por isso drone é proibido, caso o tenhas é confiscado.
É proibido fotografar ou filmar: controles rodoviários da policia, acampamentos militares (espalhados em todo o território), militares nas cidades para segurança dos turistas, etc.

Fiz a travessia de Ferry, a partir de Algeciras para Tânger Mediterrâneo.
No barco e durante a travessia, é preciso dar "entrada no país", apresentando no guiché indicado passaporte e um documento a preencher.
Passar a fronteira de Marrocos, neste caso dentro do porto de Tânger, é uma aventura. Por vezes pode ser tranquila, ou uma aflição.

Depois já no porto de Tânger a carrinha é toda revistada mais uma vez.
Foi aí que começou a minha primeira provação. Fui interrogada informalmente, mas intensamente durante uns 30 minutos.
Qual o destino? o porquê daquela viagem? se era jornalista? se me ia encontrar com alguém? o que andava ali a fazer sozinha? o que utilizava para me proteger? ... E batiam sempre na mesma pergunta, "se era jornalista?" e na afirmação que uma mulher não anda sozinha.
Revistaram tudo, tudo, tudo ... vasculharam o telemóvel todo (e assistiam aos vídeos das viagens que já tinha feito), viram as fotos das maquinas fotográficas. Analisaram as minhas anotações da viagem: locais para visitar, mapa traçado do percurso, coordenadas de locais mais distantes a visitar, etc.

Depois como não encontraram nada, que me pudessem expulsar do país, lá me deixaram seguir viagem. Mas deixaram o aviso, para eu ter atenção se eu fizesse alguma coisa mal era logo mandada embora. Parece que tinham medo que eu "contaminasse" as suas Mulheres, com a minha liberdade.

Segui viagem, mas desgastada e a sentir-me uma péssima mulher.
Mas depois levei aquilo como uma prova, para saber se realmente estava preparada para o que ia enfrentar. E se a minha vontade de conhecer o país, ver o dia a dia da população marroquina, realmente era grande e justificava tal provação.
Depois disso foram muitas as aventuras muito boas e algumas menos boas, mas que no final correu tudo bem e por isso fica para a minha história.

Em suma:

Marrocos é um país muito seguro, em ambientes turísticos. Fora isso é preciso redobrar os cuidados, mais do que farias se tivesses na Europa.
É de relembrar que é uma cultura diferente, que têm linguagens corporais e modos diferentes. É necessário adaptar, e saber encaixar as várias diferenças.
E posso garantir que, há espaço para "negociação", antes de serem mais brutos contigo. Podia dar vários exemplos, mas escolho este: um autocarro a arder na estrada (a 300 metros de mim) e não se conseguia passar. No topo de uma serra, com 45ºC, +/- 1h45 até se iniciar a circulação. Eu nem saí da carrinha, estava "congelada" agarrada ao volante. A assistir ao avançar das chamas (traseira para a dianteira), o rebentar dos pneus, a explosão do tanque de gasóleo,etc. Eram todos marroquinos, nos carros, carrinhas de trabalhadores, era uma estrada utilizada pelo povo. Mais de 1h até aparecer policia e bombeiros. Os que tinham espaço, encostaram-se á carrinha para ter sombra, pouco tempo depois surgiram crianças e adultos a pedirem-me comida e água. Eu dizia que não tinha e quando, um ou outro ficava mais agressivo, eu mostrava um garrafão vazio, acalmavam e iam embora. Eu tinha, claro que tinha água e comida. Mas não dava para todos e por isso mais vale não ter. Conclusão sofremos todos por sede e alguns por fome, mas éramos todos um "rebanho a sofrer do mesmo" e quando assim é, acabam por acalmar e seguirem o seu caminho. Mesmo quando tens a carrinha estacionada numa cidade, batem á porta ou nos vidros, se não fizeres barulho e fizeres de conta que não está ninguém, eles vão embora. Tens de ter sempre tudo trancado (mesmo em andamento), porque tentam entrar!
Sempre que entras por estrada numa cidade/vila, há controlo policial. Tens que ir muito devagar, eles olham e mandam seguir, ou parar. Caso alguém não pare, há um sistema quando accionado, atravessa na estrada um tapete com lâminas que te furam os pneus.
Tinha planeado visitar umas cascatas, mas com a secas cada vez mais evidentes e notórias, não havia água e era inútil fazer esses trajectos.
As temperaturas rondaram os 40ºC, só em Essaouira é que estava nos 28ºC (é muito ventoso). No deserto do Saara em Merzouga, no dia que lá estive chegou aos 49ºC.
Uns 2 dias depois de ter chegado, foi a Festa do Carneiro. É uma festa religiosa, onde os carneiros são sacrificados. Mas imunda um fedor nas ruas. Entre peles amontoadas, entranhas, cheiro a carne fresca e ao mesmo tempo podre ... inexplicável.
E comum nas "estradas do povo" ver cães e burros mortos nas terras ou bermas, por vezes já em esqueleto. Não por serem atropelados, mas por doenças, desidratação, etc.
Marrocos tem uma vasta e óptimas rede de autoestradas. Eu não utilizei nenhuma, mas passei ao lado de algumas.
Também tem muitos parques de campismo, ou terrenos vedados para autocaravanas. Não entrei em nenhum, via as indicações a uns 15km de cada cidade. Eu pernoitava no centro da cidade em alguma rua mais calma e junto de casas ou prédios.
Conduzir em Marrocos é preciso "ir com a maré", sem medos e olho aberto. Em Marrocos sê Marroquino e isso é valido para quase tudo.
Foi imprescindível o meu GPS TomTom Mundo. Muito prático e útil, a aplicação "Map of Morocco Offline" e um suporte em caso da tecnologia avariar, o guia Lonely Planet Marrocos.

Documentos necessários:

Passaporte,
formulário de entrada e saída do país (dão-te para preencher, antes de cada embarque),
em caso de ir com carro/carrinha é necessário ter seguro que abranja o país.
convém ir a uma consulta do viajante (eu levei uma vacina)

Gastos:

Ferry (companhia FRS), autocaravana, uma pessoa ida e volta por 165 euros.
600 euros em Marrocos. Onde entra tudo desde, alimentação, combustível, entradas em monumentos, etc. E contando com as perdas entre compra e venda da moeda (Dirham marroquino).
Uma boa revisão na carrinha, adequando alguns elementos para as temperaturas e terrenos que ia. Uma das coisas que fiz questão que o mecânico muda-se, foi o líquido do sistema de refrigeração, para um líquido adequado a altas temperaturas.

Se tivesse que escolher 3 cidades:

Rabat, capital de Marrocos. Mas os motivos são outros; é pelos inúmeros monumentos históricos; tem praia; tem ria com Salé do outro lado, á espera de ser explorado e tranquilo; tem a típica Kasbah, vila fortificada; maravilhosas paisagens, etc.
Agadir, com uma praia maravilhosa de água maravilhosa. Uma bela e extensa avenida para peões ao longo da praia e a acompanhar a cidade.
Chefchaouen, a cidade azul. É de uma beleza tanto ao longe como no seu interior. Uma cidade muito tranquila, agradável e mesmo encaixada na encosta das Montanhas do Riff.

Em Merzouga, nas dunas Erg Chebbi, deserto do Saara, também é um local a visitar.

E se tiver a oportunidade e físico para subir aquela enorme duna, pode assistir ao nascer do sol, que é inesquecível.

Depois de 9h30 de viajem em autocarro cheguei pouco antes das 6h00. Ainda "escuro como breu", lá fui apalpando terreno e seguindo os peregrinos que tinham a mesma intenção. Assistir no cimo da maior duna, ao nascer do sol.

Foi maravilhoso e gratificante as quase 2h a caminhar, sobre areia super fina e com um super poder, muda de cor ao longo do dia e da luminosidade.

Tenho consciência que existe outras formas, mais seguras e tranquilas de conhecer o país.
Mas estas foram as minhas escolhas. E posso dizer que mais de metade dos turistas e autocaravanistas não conhece, nem apreciou o dia a dia de um comum marroquino, nas aldeias onde raramente passa um carro estrangeiro.

Onde andas quilómetros e quilómetros na terra, para fazeres a ligação de uma aldeia, com outra e mais outra.

Onde uma fotografia não tem encanto, o encanto está a observação e no que se sente ao ver aquela humilde vida. Os utensílios usados no dia a dia, o "tratamento de lixo", o abastecimento de água, as suas lides de agricultura, como passam o tempo livre ali agachados junto da estrada, os seus rituais, etc.

SONHA, PREPARA-TE E REALIZA! Bons quilómetros e com garra!

Vídeo

Fotos

Porto de Algeciras

Ferry Algeciras--» Tânger Med.

Tânger Med. --» Tânger

Tânger

Arzila

Larache

Carneiro á espera da sua hora ...Festa dos Carneiros

Larache

Larache --» Rabat

Salé / Rabat

Cemitério colorido de Salé / Rabat

Salé / Rabat

Rabat

Mesquita Hassan, Rabat

Vista para a cidade de Rabat, Mesquita Hassan

Rabat

Mesquita Hassan, Rabat

Kasbah dos Oudayas, Rabat

Rabat

Mesquita Hassan II, Casablanca

Casablanca

Morocco Mall, segundo maior shopping da África. Casablanca

El Jadida

El Jadida --» Essaouira

Depois de lhes dar umas coisas e trocar-mos gestos (não falarmos nenhuma língua em comum), corri para lhes tirar uma foto. Não podia deixar de ter um retrato de uma família tão harmoniosa, de um Homem sem medos do diferente e deixar a sua mulher ser livre e visivelmente feliz com a sua família.